TRATADO SOBRE PINTURA
LEONARDO DA VINCI
Aos visitantes dessa página, um adendo, esta tradução do Tratado sobre Pintura de Leonardo da Vinci será revisada, publicada aqui em formato de artigo, tendo, por finalidade, ajudar artistas e aspirantes.
O tratado contém 86 páginas. Nesse primeiro artigo traduzi 10 de 365 conselhos àqueles que desejam ser universais, segundo Leonardo.
Primeira parte:
1) O que primeiramente deve aprender um jovem (aprendiz).
O Jovem deve antes de tudo aprender a perspectiva, para justar a medida das coisas. Depois fazer cópias de bons desenhos, para acostumar-se a um contorno correto:
logo desenharás o natural - para que vejas a razão das quais aprendestes antes; e por último, deves olhar e examinar obras de vários Mestres para que adquiriras facilidade em praticar o que já aprendestes.
2) Que interesse devem ter os jovens.
O interesse desses jovens que almejam aproveitar nas ciências imitativas de toda as figuras das coisas criadas pela natureza, deve ser o desenho, acompanhado da luz e sombras, convenientes ao espaço em que estão colocadas tais figuras.
3) Que conselho deve-se dar aos principiantes.
É evidente que a visão é a operação mais veloz de todas quanto há, pois em um único ponto se percebe infinitas formas; mas em compensação é necessário que primeiro se tenha conhecimento de uma coisa, e logo de outra, por exemplo: O leitor num golpe de olho irá ver toda esta área escrita, e num instante jugará que toda ela é feita de várias letras; por quanto não poderá ao mesmo tempo conhecer que letras são, nem o que dizem; e assim é preciso ir palavra por palavra, linha por linha inteirando-se de seu conteúdo. Também para subir no alto de um edifício, terá que faze-lo degrau por degrau, de outro modo será impossível conseguir. Da mesma maneira, pois, é preciso caminhar na arte da Pintura. Querendo vós uma ideia exata das formas que existe, empenharás por cada parte que se compõe, sem passar pela segunda, basta exercitar a memória e a prática a primeira. De outro modo, você perderá inutilmente seu tempo, você prolongará seu estudo: e diante de todas coisas advirto, que primeiro terá de aprender à diligência que a prontidão.
4) Para o jovem quem tem disposição à pintura.
Há muitos que tem grande desejo e amor ao desenho, mas nenhuma disposição; e isto acontece àqueles jovens, cujos desenhos lhes falta a diligência, e nunca os concluí com todas as sombras que devem ter.
5) Preceito para o Pintor
De nenhum modo merece respeito o pintor que somente sabe fazer uma coisa, seja um nu, uma cabeça, as dobras, animais, paisagens ou outras coisas desse teor; pois não há ingênuo tão torpe, que aplicado numa única coisa, praticando-a, continuamente, não venha executar bem.
6)De que maneira o jovem deve estudar.
Na mente do pintor deve continuamente mudar-se a tantos assuntos, quantas sãos as figuras dos objetos notáveis que se põe adiante; e em cada uma delas deve deter-se a estuda-las, formar as regras que lhe pareça, considerando o lugar, as circunstâncias, a luz e as sombras.
7) O modo de estudar.
Estude primeiro a ciência, e logo a prática que se deduz dela. O Pintor deve estudar com regra, sem deixar nada que não confie sua mente, vendo que diferença há entre os membros de um animal, e suas articulações e conjunturas.
8) Advertência ao pintor.
O pintor deve ser universal, e amante da solidão; deve considerar o que enxerga, e raciocinar consigo mesmo, elegendo as partes mais excelentes de todas as coisas que vê; fazendo como o espelho que se transmuta em tantas cores quando colocadas na frente: e desta maneira parecerá uma segunda natureza.
9) Preceito do pintor universal.
Este que não gostar igualmente de todas as coisas que na pintura se contem, não será universal; porque se um gosta apenas de paisagens, é sinal que somente quer ser um simples investigador, como disse nosso Boticcello, o que acrescenta que todo estudo é vão; Porque arrimando numa parede uma esponja preenchida de várias cores, uma mancha será impressa uma mancha que parecerá uma paisagem. É verdade que nela se vê várias daquelas invenções que pretende fazer homem, como cabeças, animais diversos, batalhas, armadilhas, mares, nuvens, bosques e outras coisas assim: Caso parecido é assim com a música das campanhas militares, que diz o que a ti lhe parece que diz. E assim, ao que tais manchas lhe de invenção, nunca será capaz de mostrar a conclusão e decisão de uma coisa em particular, e as paisagens do dizente pintor eram bem mesquinhos.
Não quero excluir desses preceitos nova invenção de especulação, que, embora pareça pequeno e irrisório, é de grande utilidade engenhosa para várias concepções. Atenção aqui: Se observares algum muro cheio de suas manchas ou aqueles que se destacam pedras de diversas substâncias, e você propõe imaginar uma paisagem, poderás ver alí, sobre esse muro, imagens de distintas paisagens, ornados de montanhas, rios, penhascos, árvores, planícies, grandes vales e correntes de múltiplas formas; poderá ver alí todavia inúmeras figuras de batalhas e rápidas ações, estranhos aspectos de rostos e atitudes, e outras infinitas coisas que poderás integrar em formas de arte. E lhe parecerá que, ao comtemplar sobre o muro tal mescla de coisas imaginárias, te ocorra o mesmo quando ouves o sonido de campanhas militares, e te entreténs em fantasiar nomes e vocábulos correspondentes a cada toque.
Já me sucedeu isso, a vocês, observando uma nuvem ou um muro, descobrir suas manchas que, se bem privadas da realidade da perfeição, em alguns detalhes eles despertaram minha inventividade, graças a perfeição de seus movimentos e maneiras.
10) De que maneira a de ser universal o pintor.
O pintor que decide ser universal, e agradar diversos pares, fará que numa só composição exista massas obscuras, e muita doçura entre as sombras; mas tome cuidado para que a razão e a causa sejam bem notadas.